Como eu passei do rancor à gratidão
- Joyce
- 25 de mar. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de jun. de 2022

Eu me lembro de uma pequena lenda indígena que ouvi quando eu era criança, que dentro de cada alma humana existe uma guerra entre dois lobos, um é mal e o outro é bom, e o lobo que ganhará a batalha, será quele que você mais alimentar.
Essa lenda nos chama atenção para os nossos atos, hábitos e até nosso estilo de vida.
De certo, todo ser humano tem pontos a desenvolver (os chamados ''defeitos'' ), mas também tem qualidades.
Em certos casos, melhor dizendo, em certas pessoas parece complicado encontrar qualidades, mas e se a gente apenas não estiver tendo a boa perspectiva?
É como quando você segura um dado na mão, você sempre verá 3 faces desse dado , mas uma face sempre te será renegada. Ou seja, a sua visão de mundo, dos fatos e das pessoas sempre sera relativa, sempre será de acordo com as faces que você vê, mas esse lado que você não tem acesso continua existindo, queira você ou não.
Por muito tempo, tentei entender com as minhas razões, o porque certas pessoas agiam ou tinham certas atitudes, eu entendi que a raiz disso tudo é ainda mais profunda, eu entendi que simplesmente as pessoas são como são por razões que eu desconheço (a face do dado que eu não vejo), mas uma coisa eu pude perceber, toda essa minha vontade de mudá-las vinha do meu próprio ego, vinha do ”porque tudo não está sempre ao meu favor?” ”Porque as pessoas nao agem como eu quero?” Eu estava sendo egocêntrica.
Mas esse é o verdadeiro amor? Amar e ao mesmo tempo querer mudar o outro? Eu percebi que eu estava amando de forma egocêntrica, pois o verdadeiro amor é incondicional, ou seja, tem sua base na aceitação e não na imposição, não no tentar mudar, não no tentar convencer que do meu jeito é melhor. As pessoas precisam aprender por elas mesmas.
Eu compreendi que as pessoas são o que são e fazem o que fazem, isso é fato, mas o que eu faço disso e como eu interpreto é minha responsabilidade.
Por muito tempo, eu detestei meu pai, por muito tempo eu o culpabilizei por todas as desgraças e dificuldades que vivi na minha vida, todas as marcas que uma base familiar nada equilibrada me deixaram, a falta de confiança em mim mesma e o fato de não me amar eu também atribuí muito tempo à ele, afinal, é tão mais fácil encontrar culpados do que assumir responsabilidades.
Mas você pode se perguntar, qual seria a responsabilidade de uma criança inocente que só desejava ser amada e ter uma família ”normal”?
Aquela criança era com certeza inocente e que ela não teve responsabilidade alguma, afinal, nós não temos responsabilidade sobre os atos ou escolhas alheias, mas eu não sou mais aquela criança e a minha responsabilidade está justamente no hoje. O que eu faço desses sentimentos hoje? Será que não vale a pena olhar para meu passado e reavaliar os fatos como a mulher que sou hoje dentro de uma nova perspectiva ?
O que você viveu é um fato, não pode ser negado, muito menos apagado, mas como você vive ou interpreta isso é escolha sua, trauma ou aprendizado?
Essa nova maneira de encarar meu passado me ajudou não só a perdoar meu pai, mas a ser grata a ele pois eu pude perceber que mesmo da forma inversa ele me ensinou o caminho a seguir, ele me deu o exemplo, ele me mostrou como é importante escolher nossas relações, o valor que tem uma família, como os pais podem impactar na vida dos filhos, o perigo do álcool e das drogas, qual é o resultado de uma vida de excessos. Enfim, eu poderia escolher vê-lo de outra forma, de me colocar na posição confortável de vítima e dizer que ele é o vilão, mas eu escolhi vê-lo como um instrumento da vida para me ensinar grandes valores.
Eu escolhi tentar olhar a face obscura do dado, mergulhar no passado dessa pessoa que eu acreditava ter me causado tanto mal e eu vi que pra ele também não foi fácil, o que não lhe serve de desculpa, mas me ajuda a compreender que ele não curou suas feridas antes de me receber na vida dele, e gente ferida fere.
E é exatamente por isso que eu procuro curar as minhas, para que meu futuro conte uma bela historia do meu passado, eu compreendi que se eu me colocasse de vítima, eu reproduziria os comportamentos do meu pai e eu cometeria provavelmente os mesmo erros que ele.
Foi assim que eu transformei meu rancor em gratidão e hoje, se eu tivesse algo a falar para o meu pai, seria simplesmente um muito obrigado pelos exemplos que você me deu, obrigada pois através da sua vida eu aprendi demais e que mesmo da forma mais estranha possível ele me deu o melhor que ele tinha pra me dar naquele momento, ele me deu o que ele sabia até o momento sobre amor.
É preciso aceitar que na vida a gente não recebe o amor no formato que a gente quer, ele vem no formato da definição de amor do outro, ele vem da forma que o outro aprendeu a amar, e muitas vezes essa forma é tão deformada que nem parece amor, mas mais uma vez a impressão que você tem do mundo, dos fatos e das pessoas , falam mais de você do que do outro.
O que você vê no outro e no mundo? Se você só consegue ver a maldade em tudo, então talvez o problema não seja o outro, não seja o mundo, mas seja o seu olhar em relação à eles. Claro que a gente não vive no mundo de maravilhas, precisamos ser realistas, pés no chão, mas antes de colar uma etiqueta no outro e em você pense duas vezes.
Espero que vocês tenham gostado,
Grande Beijo,
Joyce.





Comentários