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Sentimentos que incomodam: Raiva

Atualizado: 15 de jun. de 2022


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Introdução

Antes de começar a falar da raiva eu acho importante esclarecer que todas nossas emoções mesmo negativas são consideradas neutras e importantes para a vida humana, o ser humano vive numa flutuação emocional que é de certa forma natural e eu diria mesmo que essencial. Se não tivéssemos experimentado sentimentos como o de tristeza, cólera, certamente, seria impossível sentir alegria ou serenidade, nós não teríamos uma base de comparação entre nossos sentimentos, portanto seríamos seres apáticos à tudo e que nenhum estímulo exterior do ambiente em que vivemos seria capaz de tocar no nosso âmbito sentimental, nós seriamos eu diria, totalmente desconectados da realidade em que vivemos e inaptos para a vida, eu ariscaria mesmo à dizer quem sem isso, o ser humano já teria sido extinto a muito tempo. Entretanto, é totalmente compreensivo que esse sistema sensorial do ser humano no qual ele recebe uma informação do exterior através dos sentidos que desencadeia um sentimento e que resulta em uma resposta chamada comportamento, por vezes, em alguns aspectos, não se adeque mais a nossa forma de vida moderna, principalmente no caso em que nos vemos obrigados a controlar esses comportamentos para vivermos na sociedade atual, eu vou explicar tudo isso com exemplos e de forma mais simplificada :


A raiva

O sentimento no qual eu quero me focar hoje é o sentimento de raiva.

A raiva em sua base pode ser descrita como uma sensação de que alguém se apropriou do que é nosso, seja de um objeto, do nosso espaço ou território, de um direito etc, o sentimento é de que algo nos será ou nos foi tomado de forma injusta.

A raiva, no seu estado bruto, não era considerado um sentimento negativo para nossos ancestrais, por exemplos, no caso em que um pedaço de carne te fosse roubado e isso pudesse significar a vida ou a morte de seus filhos ou até mesmo a tua, a raiva era um sentimento que te daria a energia necessária para fazer justiça, para defender o que é seu, mas e nos dias de hoje? Quando somos injustiçados no trabalho, no trânsito, em casa, será que sabemos o que fazer com toda essa energia viceral que explode dentro de nós? Será que ela ainda guarda sua utilidade?


Sendo útil ou não, a raiva é o que ela é, um sentimento humano de defesa do eu, porém, a sociedade moderna que nos educou (e ainda bem) ensina que a gente não pode sair gritando com todo mundo, estapeando todo mundo, quebrando os móveis, tudo isso é muito lindo e nós agradecemos a sociedade por isso , mas o problema é que ela nos educou e esqueceu de nos ensinar o que fazer com a raiva depois, a gente põe aonde? No bolso? Pra onde direcionar toda essa energia que nos consome por dentro?


"A raiva como outros sentimentos negativos NÃO é biodegradável dentro de nós, ela não vai desaparecer e deixar flores pelo caminho, ela é como plástico no oceano, polui nosso interior, mata toda forma de vida que encontra , contamina tudo a sua volta até não existir mais nada, só ela. Podemos comparar a raiva com uma planta parasita que se alimenta de uma arvore, até se tonar mais forte que a primeira e sufocá-la."

A sociedade nos educou nos dizendo que o simples fato de sentir e de expressar um sentimento negativo é ruim e é ai que caímos na armadilha do positivismo tóxico que eu tanto critíco, positivismo é bom, maravilhoso, uma das mais lindas filosofias de vida e uma forma de transformar nossa perspectiva sobre a vida e seus eventos, mas quando ela vira negacionismo do que é meramente humano, ela é como um veneno, ela pode enterrar nosso humanismo, nossos sentimentos e o engraçado é que dizem que o ser humano é frio, claro que ele é frio, nos ensinaram que sentir é fraqueza, que homem não chora, que não temos direito de sentir, os grandes líderes nos quais nos inspiravam até ontem eram homens frios (alguns ainda hoje), é como se em parte insistíssemos no fato de viver como bicho homem, porque estamos apegados a raiva.


Por todos esses motivos a primeira coisa que nos vem à cabeça quando sentimos um sentimento negativo é:

"Aí meu Deus, merda, to sentindo raiva, tristeza, inveja, remorso, rancor, eu não posso sentir isso, eu não tenho esse direito" e daí nasce outro sentimento que pra mim, ao lado do medo e da insegurança (que falamos no ultimo podcast) , é um dos mais nocivos quando permitimos que este controle nossas ações, ele é a culpabilidade.

Nos sentimos culpados pelo simples fato de sentir raiva, tristeza, inveja, remorso porque fomos educados assim e pior, pelo fato de possuirmos certas coisas, nos sentimos culpados de ter o que temos e ainda assim sentir esses sentimentos, e aí a gente se diz: "mas tanta gente sem isso e sem aquilo e eu aqui tendo o que tenho e sentindo isso, eu não tenho esse direito".


"E esse é o momento em que ao invés de sermos compreensivos coma gente mesmo, escolhemos nos julgar antes que a sociedade o faça, não nos permitimos sofrer, não nos autorizando a sentir e pouco a pouco sufocamos o ser humano que existe em nós e que quer viver e é assim que a vida perde a intensidade e a gente perde a vontade de viver, porque ela não tem mais gosto, não tem mais profundidade e não é mais intensa."

Mas então a raiva é só isso? Só um sistema de defesa automático?


Não, por conta de toda essa experiencia que temos em torno da raiva, acreditamos hoje, que de alguma forma essa raiva nos protege, que ela nos endurece, que ela não permite que o outro me fira, afinal, quem mexe com cachorro bravo? Então, nos agarramos cada vez mais à ela com a desculpa de que ela vai me impedir de sofrer, é como uma carapaça, que acaba por esconder um ser humano muito frágil em questões psicológicas, emocionais e na maneira com que ele interpreta os eventos e vive o sofrimento, por isso, a raiva virou algo em que nos apegamos.


À energia que a raiva cria deve ser liberada, pois ela é cumulativa e também ruminante , por exemplo, às vezes você vive uma situação no trabalho, outra no trânsito, mas como você é um ser humano civilizado, você escolhe não ser agressivo e não expressar a raiva da forma mais selvagem possível, chegando em casa, o simples fato de que seu filho faça manha pra não tomar banho, que você queime a comida, que o encanamento dê um problema ou que seu marido (esposa) esteja no sofá ao invés de estar te ajudando, vão te fazer reagir de forma desproporcional, então, ao invés de conversar com seu marido ou esposa, ao invés de ser compreensiva (o) com seus filhos, ao invés de ter reações proporcionais, racionais e práticas, você vai simplesmente vomitar toda sua raiva acumulada em cima das pessoas que você mais ama, até porque lá fora ninguém aceitaria e em casa eles aceitam porque o amor de família é incondicional mas, mais alguns anos dessa forma, você pode acostumar a tratar seu marido ou esposa assim e caminhar para o divórcio, gerar uma doença psicossomática , traumatizar seus filhos, magoar quem você mais ama, afastar seus amigos e ao invés de raiva, você vai viver no ódio.


A vida útil da raiva é, ela nasce da irritação da tristeza ou do aborrecimento, se torna a raiva que conhecemos e caminha para a fúria e o ódio, ela constrói seu império em camadas dentro de nós, quanto mais avançado o estado, mais difícil é detrui-la, pois, ela se agarra à crenças que criamos, uma delas é que ela nos defende e nos protege do sofrimento, outra é a de que pessoas seguras de si não devem demonstrar sentimentos.


Você já conheceu uma pessoa que parece sempre estar com raiva? Você percebeu que quanto mais o tempo passa e mais ela envelhece ( se ela não decidiu se curar) ela fica cada vez mais intolerante, difícil de conversar e de conviver? Pois é exatamente esse efeito cumulativo que eu vos disse e no fundo, na base de tudo isso, do que essa pessoa sofre é tristeza e frustração e enquanto essa ferida não for curada ela não será liberta da raiva e companhia ilimitada.


É tão estranho porque mesmo antes de decidir o tema do podcast dessa semana eu vivi uma situação onde eu experimentei a raiva de forma inabitual pra mim .

Na segunda feira, eu, como boa amante dos animais e da natureza, resolvi resgatar um passarinho que estava muito debilitado pois tinha brigado com um gato do prédio, enfim, eu não pensei duas vezes quando eu vi que o passarinho não tinha a possibilidade de se alimentar com o bico retorcido, com uma pata e asa quebrada.

Como já era noite, eu resolvi acolhê-lo e no dia seguinte procurar um órgão responsável por animais ou até mesmo levá-lo ao veterinário custasse o que custasse, simplesmente, porque eu não podia virar as costas e fingir que não era comigo, eu sei que se fosse pra casa sem resgatá-lo eu não iria dormir de culpabilidade, então, resultado, eu e o passarinho em casa segunda a noite.

Segundo os vizinhos, fazia mais de uma noite que ele estava naquele estado e fazia calor, eu tinha medo que ele não aguentasse a noite e amanhecesse morto por não beber nada à dois dias, então, eu estava entre a cruz e a espada, assumir o risco que ele morra de sede ou correr o risco de lhe dar água e sufocá-lo? Eu optei pela segunda opção, fui até uma farmácia com ele e contando a história para a dona da farmácia, ela me deu de graça a seringa, como que uma atitude inspiradora gera uma outra.

Eu entrei em casa e com todo cuidado tirei ele da caixa, não queria correr o risco de machucá-lo e assustá-lo ainda mais e com muito cuidado eu o ofereci água, sentei no sofá com ele em minhas mãos na esperança que a água lhe descesse corretamente e que de alguma forma, eu pudesse lhe dar um pouco de reconforto, ficamos 5 minutos assim, até ele se recontorcer, abrir bem os olho, me olhar e partir. Você não imaginam a minha frustração de vê-lo morrer e não poder fazer nada, é por isso que eu admiro esses profissionais da saúde e mesmos os veterinários, não é fácil ver o quanto a gente é impotente diante da morte, enfim, eu tentei ressuscitá-lo, eu fiz de tudo até compreender que nada mudaria os fatos.

Eu acho que eu não preciso te dizer, coração mole que sou, aquele serzinho indefeso de olhar doce tinha tocado meu coração e o fato de não conseguir salvá-lo ou ainda pior, matá-lo pela minha imperícia estragou minha noite e mesmo no dia seguinte, eu me sentia sem energia nenhuma, sim eu precisei chorar e por tudo pra fora, mas mais do que isso, eu me senti muito culpada de o ter oferecido água, eu acho que com isso acabei o sufocando, mesmo com a mais boa intenção. Na verdade, de toda forma eu me sentiria culpada porque se ele amanhecesse morto eu diria que ele morreu de sede, enfim, eu me culpabilizei e o fato de ser incompetente e impotente gerou em mim raiva, sim, a tristeza virou raiva, naquele dia, eu soquei a parede e a mesa sozinha em casa, essa era minha frustração que gritava, essa era minha impotência diante da situação, tudo isso pra te exemplifica o que disse antes que por trás da raiva existe muita coisa, geralmente o sentimento de tristeza e frustração.


Mas então o que fazer quando os sentimentos negativos, como a raiva a tristeza, o remorso, o rancor batem a porta?


1. Acolher

Não importa qual seja o sentimento acolha sempre.

Acolher, admitir, aceitar e se permitir de sentir e sobre tudo, jamais, eu digo de novo JAMAIS se culpabilizar por sentir porque sentir é humano e graças ao céus que você tem sentimentos porque de outra forma, você seria alguém totalmente desconectado do mundo.


2. Se dê amor

Durante esse período de raiva ou tristeza se dê amor, pergunte-se:

O que eu preciso e que está ao meu alcance que eu posso fazer para me sentir melhor?

Dormir um pouquinho mais? Comer um doce? Quais são as minhas necessidades?

Mesmo se você tem filhos e pouco tempo, arranje esse tempo, porque se você não estiver bem, você não poderá estar bem para estar com seus filhos, para estar com seu companheiro(a), para se dedicar à sua família, pelo contrário, você poderá certamente ter uma atitude da qual você culpabilizará depois.


3. Verbalize

Diga à seus próximos que você não está bem, que você precisa mais de carinho, ou até ao contrário, de ficar um pouco sozinho, de relaxar, permita-se viver esses momentos e verbalize aos que te cercam.

Por exemplo, no meu caso eu percebo quando estou em períodos mais irritadiços, eu sinto que minha paciência não é a mesma, que meu sangue está mais quente, que quase tudo me irrita e eu tenho o costume de falar para meu namorado: "olha eu estou sentindo que hoje eu estou um pouco sem paciência, então se você me ver um pouco irritadiça, não é nada com você". Eu faço isso principalmente em alguns períodos de TPM, embora no meu caso não seja muito intenso, eu prefiro preveni-lo porque principalmente os homens têm a tendência de culpabilizar e acreditar que todo mau-humor ou comportamento feminino está relacionado à eles, se você quiser sabe mais eu te aconselho o livro, os homens vem de marte e as mulheres de Venus de John Gray.


Enfim, claro que a TPM ou o simples fato de verbalizar que você está em um mal dia não te dá o direito de sair dizendo e fazendo o que eu bem entender, mas é importante explicar para as pessoas que nos amam que não estamos irritadas com elas diretamente e sim que tem algo emocionalmente dentro de nós em busca de um novo equilíbrio.

Você vai perceber que o simples fato de de verbalizar vai tirar um grande peso das suas costas e você irá perceber também que as pessoas são na maior parte do tempo compreensivas porque elas te amam e o mais legal é que elas vão ter um carinho especial por você nesse período.

Eu lembro que uma vez eu fiz isso e meu companheiro me propôs logo em seguida de ir procurar um doce, um outro dia ele simplesmente apareceu com algo porque ele sabia que eu estava tendo um dia difícil, claro que existem pessoas que não tem esse reflexo, as vezes pela educação, personalidade ou uma linguagem do amor diferente da sua, mas no começo você pode expressar que você adoraria fazer isso ou aquilo, receber isso ou aquilo até que um dia isso será um habito na relação, ninguém é obrigado a adivinhar o que a gente quer.


O fato de verbalizar também evita que passemos por aquela sessão de perguntas que nos deixam ainda mais estressado mais estressado (a) do tipo:

Porque você esta irritado(a)?

Porque essa cara?

Etc.

Prevenir de antemão faz com a pessoa não leve isso para o lado pessoal, ela vai te deixar mais livre pra se expressar justamente porque você explicou que não é com ela e que é simplesmente passageiro, que não ha razões para se preocupar e querer ir alem.


4. Ponha pra fora, expresse

A raiva é algo que deve ser expressado, você pode fazê-lo da forma mais bruta que aprendemos, gritando, batendo e quebrando ou da forma mais proveitosa que seria através do esporte e/ou da arte, convém se conhecer para saber exatamente o que te ajudaria mais a evacuar esses sentimentos negativos, eles só não podem ficar dentro de você germinando.


5. Questione-se:

Qual sentimento essa raiva esconde?

Quais pensamentos eu tenho, qual o meu dialogo interior quando eu estou com raiva?

O que faz com que eu me apegue a minha raiva?

Onde eu sinto essa raiva no meu corpo?

Com que tipo de situação geralmente essa raiva é despertado em mim ? O que você procura defender geralmente?

O que eu poderia fazer para por a minha raiva para fora? Qual atividade, esporte ou gênero de arte?

Como eu poderia evitar de despejar a raiva nas pessoas que eu mais amo?


Eu espero que você tenha gostado e que esse podcast tenha te ajudado, não hesite em compartilhar com seus amigos, colegas e com aqueles que você considera que precisa. Não deixe de conferir o podcast no youtube ou Spotfy.



Grande Abraço.

Joyce Dibout

 
 
 

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