Sentimentos que incomodam: Tristeza
- joycedibout
- 17 de mai. de 2021
- 11 min de leitura
Atualizado: 18 de jul. de 2022

Introdução
Antes de aprofundar no tema da tristeza, caso você não tenha visto o último episódio que falava sobre a raiva, eu acho importante esclarecer que não existem sentimentos ruins, existem sentimentos que hoje, para o homem moderno, consideramos desconfortáveis de serem vivenciados e talvez essa seja a melhor maneira de descrever os ”sentimentos negativos” porque todos os sentimentos são essências para a vida humana e para a criação do nosso sistema emocional, por isso, tratar os sentimentos negativos como se fossem algo nocivo nos leva a ter um comportamento de resistência face à eles.Infelizmente, se não aprendermos a viver bem nossos invernos emocionais, não teremos acesso as primaveras.
O sofrimento
Hoje, muito se fala da linguagem do amor de cada um, das diferentes maneiras que podemos vivenciá-lo, demonstrá-lo e qual seria a maneira que mais apreciamos recebê-lo, se você não conhece ou nunca ouviu falar disso, eu te aconselho a ler o livro as 5 linguagens do amor de Gary Chapman. Eu acho incrível ter acesso à esse tipo de conteúdo que nos permite nos conhecermos melhor, mas tão importante quanto o amor, eu acredito que seria útil falarmos da nossa linguagem face ao sofrimento, isso evitaria muito o julgamento em relação à nossa forma de sofrer e a do outros afinal, está mais do que evidente que não vivemos o sofrimento da mesma forma, não lidamos com as dificuldades da vida da mesma forma e isso porque nosso sistema emocional foi construído de forma diferente, ou seja,resumindo, nós não sentimos e não vivemos a mesma experiência diante de um determinado sentimento. A compreensão desse simples fato, evitaria a comparação e a criação de opiniões em cima do sofrimento alheio, na verdade, a gente está o tempo todo dizendo como o outro deveria ou não sofrer porque de alguma forma, a única linguagem do sofrimento que a gente conhece é a nossa.
Eu ouvi esses dias uma frase de um autor desconhecido que dizia: ''Nos seria bem mais fácil se pudéssemos simplesmente trocar de problemas com os outros porque sempre temos a solução para os problemas e os sofrimento deles, mas quase nunca para os nossos.''
É importante compreender que no âmbito emocional somos diferentes e que mesmo para dois irmãos gêmeos que viveram as mesmas coisas, foram criados pelos mesmos pais, um mesmo problema será vivido e percebido diferentemente pois não é só o ambiente em que vivemos que é responsável pelo que somos e a maneira como vemos a vida, existem outros fatores, incluindo o da personalidade.
A tristeza
A tristeza pode ser vivida por conta de situações simples do dia a dia, desde um bibelô da família que se quebra, até um luto de um familiar querido, desde um período curto, até um período razoávelmente mais prolongado, de forma mais superficial ou de forma mais profunda que possa até mesmo representar uma marca na nossa memória emocional que refletirá pelo resto da nossa vida. As vezes, o motivo da tristeza também não nos parece ser claro no primeiro momento em que a remarcamos, mas mesmo que inconscientemente, ela tem um agente causador ou um motivo de ser e de existir.
Fazendo um paralelo com a época em que vivemos, essa nossa sociedade atual está obcecada pela felicidade e pelo sucesso, mas o fator agravante é que vivemos em um processo de produção, avaliação e comparação constante potencializado pelo acesso as redes, ou seja, o valor do ser humano foi reduzido à um valor matemático, ele é o dinheiro que você pode gerar em um determinado período de tempo, a quantidade de likes que você pode conseguir, a quantidade de seguidores etc. Essa forma de funcionar da nossa sociedade moderna que parece alimentar um sentimento de constante frustração, a gente tem patamares quase que imbatíveis, a gente não se contenta com nada, pois algo sempre está faltando e algo sempre poderia ser melhor como no caso do ”fulano” que conseguiu isso e aquilo e que a gente na verdade, só sabe porque vê o sucesso dele nas redes.
E por conta dessa busca por uma felicidade inalcançável, mas que acreditamos existir graças as redes, ou seja, a felicidade vivida 100% do tempo, onde ninguém nunca tem problemas, onde ninguém nunca está triste, onde ninguém sente a falta de nada, nós seres humanos criamos uma resistência aos sentimentos tidos como ”negativos”, e essa resistência, adiciona camadas ao nosso processo de tristeza, seja ela uma camada de medo, de culpabilidade, de raiva, de angústia, de ansiedade, vejamos por exemplo os pensamentos mais frequentes que temos quando estamos vivendo um inverno emocional:
” Eu não quero estar triste” (resistência, recusa)
”Porque eu sou assim?” (Comparação, falta de aceitação )
”Por quanto tempo eu vou ficar assim?” (Ansiedade, cobrança)
”Essa tristeza vai acabar comigo” (Negativismo, instalação de uma crença destrutiva)
”Mas eu nem tenho motivos verdadeiros, então eu não tenho o direito de estar triste” (auto julgamento)
”Eu não aguento mais estar triste” (indignação, irritação com sigo mesmo)
”Eu me detesto por estar triste, os outros não ficam triste assim” (raiva, comparação)
” As pessoas não vão entender, o que eu vou dizer? ” (dependência afetiva, ansiedade, auto julgamento, se considerar ilegítimo)
”Se eu to triste as pessoas vão me amar ao menos” (dependência afetiva, ansiedade)
Resumindo por medo de sofrer, nos causamos mais sofrimento, atravessamos nossos invernos emocionais com bagagens extras que a gente mesmo cria por escolher passar por esses períodos de tristeza no modo defensivo.
Eu posso te dizer, que tirando as tristezas ligadas ao luto de alguém querido ( porque o luto é uma tristeza bem especifica) , meus momentos de inverno emocional sempre me permitiram sair deles com uma ideia nova, com uma decisão importante, com o desprendimento para deixar algo que já não estava mais alinhado comigo partir, pois a tristeza é justamente esse trampolim para a ação. Ação esta, que as vezes a gente adia até o momento em que não podemos mais suportar essa tristeza e finalmente, decidir de mudar algo, isso pode ser desde se afastar de uma pessoa tóxica, deixar uma amizade que não te corresponde mais, desapegar de um relacionamento que não funciona, pedir demissão porque o ambiente está te fazendo mal, colocar limites no outro, decidir correr a trás de um sonho ou até mesmo ajustar a rota para chegar ao mesmo.
"Então a tristeza é uma mensageira entre o eu consciente e o eu inconsciente que quer te indicar que algo deveria ser ajustado, ela pode ser vivida como uma oportunidade de rever certas coisas, esse período por vezes é bem difícil de ser vivido mas ele é natural, ele pode mesmo ser considerado como um ”reset” no emocional, um período que se trabalhado, no final pode te levar a agir em pontos que precisam de mudança na sua vida."
Por outro lado, é normal que por vezes tenhamos medo de que nossa tristeza resulte em algo realmente sério como no caso da depressão, eu por exemplo, em alguns períodos da minha vida eu me perguntei, será que é tristeza ou depressão?
Como diferenciar tristeza da depressão?
É importante dizer que a depressão, é uma patologia, uma doença, já a tristeza é apenas um sentimento, uma emoção que pode ou não estar conectado com a depressão.
Estudos mais recentes, mostram que a depressão pode ser desencadeada de diversas formas, seja por meio de desequilíbrios químicos e hormonais do cérebro, características da personalidade, certa propensão genética ou mesmo através de algumas situações e traumas da vida.
Outras características como a raiva, a irritação ou a preocupação em excesso podem ser muito mais evidentes do que a tristeza em alguns casos de depressão, principalmente nos homens.
A ansiedade também está sempre a espreita da depressão, na verdade, por vezes elas podem ser confundidas e mesmo vivenciadas ao mesmo tempo.
No meu caso, como eu já te falei nos podcasts anteriores, eu vivi um período de ansiedade e síndrome do pânico e antes de procurar ajuda, a situação piorou muito a ponto de desenvolver também um quadro depressivo. Eu me lembro, por exemplo, de me deitar no sofá e ter a sensação que meu corpo de alguma forma fazia uma espécie de fusão com o mesmo, eu sentia que eu afundava infinitamente como se meu corpo estivesse alí, mas minha consciência estivesse bem longe, eu tinha a sensação que nada passava pela minha cabeça, era uma sensação de como se eu tivesse sido drenada, como se minhas forças vitais não existissem, como se eu vegetasse, existia só silencio, vazio e como eu já te contei aqui, no meu caso foi por conta de alguns acontecimentos da vida, e hoje eu tenho muito orgulho desse processo que eu vivi, pois, ele me faz compreender alguém que passa por esse processo, às vezes, para alguém que nunca vivenciou a depressão seja muito mais difícil imaginar esse cenário e compreender a depressão e as experiências mesmo físicas que ela pode te fazer experimentar.
Sintomas característicos da depressão para que você nunca mais confunda com a simples tristeza
Obs: Não existe uma ordem para os sintomas e dependendo dos casos podemos notar todos ou apenas alguns.
• Sonolência ou o oposto, falta de sono.
• Mudança no apetite: não ter fome ou ao contrário, descontar tudo na comida buscando sempre por alimentos ricos em açúcar.
• Dores no corpo, dores de cabeça, dores no estômago.
• Falta de líbido, dificuldade de concentração, alterações na memória.
• Marca registrada da depressão: a anedonia, a apatia, ou seja, a vontade de não fazer nada, impossibilidade e falta de força para ações simples, como levantar da cama ou tomar banho, falta de auto estima e dificuldade de encontrar prazer, nada parece ser suficientemente estimulante.
• Noção de futuro reduzida
• Pensamentos devalorizantes, como se ele não tivesse nenhuma valia, ele tem a sensação de que estando vivo ou morto nada mudaria na vida das pessoas a sua volta, isso é ainda mais acentuado com os patamares cada vez mais inalcançável de perfeição e felicidade da sociedade atual.
• Tristeza, raiva ou irritação excessiva em um período prolongado de tempo.
Preconceito:
A psicofobia existe e é por isso que o depressivo tem dificuldade de se abrir com as pessoas. Infelizmente, por conta da ignorância, muitas pessoas acreditam que a depressão é vivida por pessoas fracas, ou que tiveram déficit na educação, no amor, por pessoas que não tem fé ou mesmo por pessoa desocupadas que têm falta do que fazer.
Na verdade, profissionais de saúde afirmam que a maioria das pessoas que sofrem com depressão são pessoas do estilo muito criativas, produtivas e metódicas, isso até o ”burn-out” ou seja, o esgotamento, a pane no sistema, geralmente o depressivo, justamente procura uma ocupação por esta representar para ele uma forma de ”escape”, mas por não respeitar o seu limite, a conta vem alta.
A ideia de positivismo pode ser muito prejudicial para alguém que sofre de depressão, na verdade, a pessoa que sofre de depressão já possui uma grande dificuldade para se abrir com as pessoas por medo do julgamento , então do que ele mais precisa é da escuta, da escuta ativa que pode tirá-lo do seu círculo vicioso do pensamento solitário, mas essa escuta passa mais pela compreensão, passa mais pelo interesse pelo outro.
Como escutar um depressivo
Se você não sabe como é esse processo de escuta ativa, se você não sabe como acolher alguém que sofre de depressão, fique tranquilo, você não é o primeiro, infelizmente não aprendemos isso na escola e na tentativa de ajudar, erramos pela imperícia.
É importante dizer que o depressivo precisa da ajuda de profissionais capacitados para trabalhar a sua patologia, mas isso não significa que não possamos ajudar da nossa forma, que não possamos escutá-lo de forma mais apropriada, vamos começar pelas frases à evitar:
• É só uma fase, vai passar
• Todo mundo se sente assim de vez em quando
• Pense à todas as coisas belas da vida
• Seja mais positivo
Frases opcionais para praticar a escuta:
• Você que falar sobre o que você está sentindo ou vivendo? Se sim, eu estou aqui para te escutar sem nenhum julgamento.
• Você não está sozinho nessa.
• Eu estou aqui para te ajudar
• Talvez eu não entenda exatamente o que você sente nesse momento, mas eu quero te ajudar, então não hesite em dizer o que eu posso fazer para que você se sinta melhor.
• Você precisa de companhia?
A escuta ativa passa pelo se interessar pelo outro, mas útil do que dar conselhos é fazer perguntas, tentar compreender, não julgar e trazer a segurança e a companhia da qual essa pessoa precisa.
Os estragos que a depressão faz:
A depressão está entre a segunda e terceira (dependendo do estudo) posicção entre as principais causas de afastamento do trabalho , ela também faz maioria no campo do suicídio.
A solidão pode ser muito prejudicial para alguém que pensa em se suicidar pois não permite que essa pessoa se abra e enxergue outras possibilidade, ela favoriza o círculo vicioso do pensamento, ou seja, a conversa franca e sem julgamentos com alguém pode ser libertador para uma pessoa com pensamentos que tem pensamentos negativos e suicidas.
É importante entender que o suicídio, na maioria das vezes, é um ato impulsivo cometido principalmente em momentos em que os níveis de endorfina estão baixos no sangue, ou seja, o suicídio também é resultante de um processo químico do cérebro, que na maioria das vezes, pode ser evitado.
Agora que já falamos de algumas bases para que você consiga diferenciar uma emoção natural de uma patologia que necessita realmente do acompanhamento de profissionais, eu gostaria de te deixar como de costume, alguns princípios para trabalhar com a tristeza, eles são semelhantes aos apresentados no episódio sobre a raiva porque o processo vivido com as emoções classificadas hoje de negativas são basicamente o mesmo.
Mas então o que fazer quando os sentimentos negativos, como a raiva a tristeza, o remorso, o rancor batem a porta?
1. Acolher
Não importa qual seja o sentimento acolha sem se julgar e sem se culpabilizar, compreendendo que esse é apenas um inverno emocional, que a primavera não será possível sem que as velhas folhas caiam para lhes ceder o lugar, entenda que algo de bom sempre sai de tudo isso, é o momento onde o seu eu interior quer te dizer algo muito importante, o momento em que você se da conta de pequenas ou grandes mudanças que não podem mais ser adiadas, um momento que te permite um renovo, na criatividade e na forma de olhar para a vida.
Então convide esse sentimento para entrar e tomar um cházinho e pergunte pra ele: Hei tristeza, o que voce quer me falar? O que você está me sinalizando que eu preciso alinhar na minha vida?
2. Se dê amor
Durante esse período de tristeza tire um tempo pra você, se dê amor, pergunte-se, o que eu posso fazer para me sentir melhor?
Dormir um pouquinho mais? Comer um doce? Quais são as minhas necessidades?
Mesmo se você tem filhos e pouco tempo, arranje esse tempo, porque se você não estiver bem, você não poderá estar bem para estar com seus filhos, para estar com seu companheiro(a). Tenha em mente que se você não escolhe parar por conta própria e respeitar os limites do seu corpo, ele fará isso por você, seja através das dores física, ou através do ”burn-out”.
3. Verbalize
Diga à seus próximos que você não está bem, que você precisa mais de carinho, ou até ao contrário, de ficar um pouco sozinho, de relaxar, permita-se viver esses momentos e verbalize aos que te cercam para que eles possam compreender que é só um período, uma fase, ou até mesmo, para que caso isso se prolongue, eles possam ser os primeiros a te alertar, às vezes, por estarmos dentro das situações, não vemos as coisas com clareza.
OBS: tenha atenção com o fato de verbalizar ele não deve ser moeda de troca para receber aquilo que nos falta habitualmente como amor, atenção e afeto, o intuito não é de ser infantilizado de fazer drama por tudo ou de virar ”maria ou João dodói” porque de outra forma isso pode desencadear a dependência afetiva, o fato de verbalizar deve ser algo franco e em momentos aonde sentimos que estamos mais sensíveis.
4. Corte a futilidade
Nesses momentos, se permita estar apenas com as pessoas que te fazem bem, se possível, não force o contato com pessoas com que você deve estar apenas no superficial, sorrindo sem vontade, veja apenas o que te faz bem, corte o supérfluo e fútil, como redes sociais que mostram o mundo falso onde todos são 100% feliz o tempo todo, ocupe seu tempo de outra forma, com atividades que você possa se sentir bem.
Eu espero que o tema dessa semana tenha te ajudado, não hesite em compartilhar com seus amigos, colegas e com aqueles que você considera que precisa.
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E caso você tenha o interesse de escutar o Podcast dessa semana eu te deixo o link aqui:
Grande Abraço e até a semana que vem.





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